Sophia De Mello Breyner Andresen 19h00 (04 JUL 2014)

Jul 06, 2014, 06:21 PM

#sofia #poesia

A luz vespertina reflectida na alva pedra fere o olhar... Neste panteão que nunca foi igreja e se chama de Santa Ingrácia... onde marcharam muitas botas militares feitas neste lugar para calçar oficiais sargentos e praças... Estamos aqui à beira deste mediterraneo que em Lisboa se chama Tejo... Um mar que podia ser o mar de Sofia... calmo e azul... breve e eterno... São navegações sem redea pla cidade onde Ulisses chegou mas podiamos estar em Patras na Grécia, na Italiana Veneza ou na Catalã Barcelona onde as pessoas desfilam como barcos pelas ruas... Mas afinal estamos aqui... frente a frente com o maneirismo e barroco deste edificio proclamado pelo estado como abrigo da memória para que não haja esquecimento daqueles que tornaram maior um país... A urna com os restos mortais de Sofia de Melo Breyner (...)

Mas há pouca gente a assisitir a esta cerimónia. O apelo da Assembleia da Republica lançado esta manhã na rádio não foi atendido, Augusto Sousa, com a máquina fotográfica à tiracolo é dos poucos que resolveu vir.

RM

Um popular que quer ter a imagem do dia de hoje em Lisboa. Também a assistir emocionada a esta cerimónia está Helena Ventura, que tira da mala um livro de Sofia de Melo Breyner.

RM

Os versos de Sofia transportados dentro das pessoas enquanto se espera por todo um cerimonial. Este é afinal um lugar onde tudo está atento, denso de memória e de veemencia… Agora, aguarda-se que José Manuel dos Santos, da Academia Nacional de Belas Artes, e um dos promotores desta iniciativa faça o elogio fúnebre... Um elogio que não deve fugir aquilo que está no projeto de resolução da Assembleia da República... onde se pode ler que esta homenagem a Sophia de Mello Breyner é uma forma de homenagear "a escritora universal, a mulher digna, a cidadã corajosa, a portuguesa insigne", e de evocar o seu exemplo de "fidelidade aos valores da liberdade e da justiça"... Já que além das letras a escritora foi fundadora da Comissão Nacional de Socorro aos Presos Políticos, durante a ditadura, e, após o 25 de Abril, foi eleita deputada à Assembleia Constituinte. Sofia é a segunda mulher (depois de Amália Rodrigues) a ir para o Panteão Nacional, onde vai ficar depositada numa arca tumular na mesma sala onde estão os túmulos do general Humberto Delgado e do escritor Aquilino Ribeiro.

Toda a cerimónia vai decorrer no átrio do Panteão Nacional e só daqui a uma hora, depois da assinatura do Termo de Sepultura pelo Presidente da República, pela presidente da Assembleia da República e pelo primeiro-ministro, a urna é transportada para o interior da igreja de Santa Engrácia... uma década depois de Sofia de Melo Breyner ter morrido...

E para a homenagear há música e dança... dança com S... já que no seus poemas Sofia sempre escreveu dança com a letra S... Em mais do que uma entrevista, ela justificava esse modo de escrever porque «A única palavra portuguesa cuja ortografia precisa de ser mudada é dança, que se deve escrever com ‘s’, como era antes, porque o ‘ç’ é uma letra sentada, uma letra pesada. E só o S projecta a ideia de movimento... São esses movimentos pla Companhia Nacional de Bailado que vamos ser convidados a assistir.... O pas de deux do Lago dos Cisnes de Tchaikosvky e uma coreografia de Olga Ruriz para ópera de Gulck Orpheu e Euridice... numa homenagem à apropriação na obra de Sofia da cultura e da miotologia grega... sobretudo de ORFEU o mito do poeta primordial aterrorizado plo amor que perdeu e tenta recuscitar... Um ORFEU apaixonado até à eternidade pla bela EURIDICE que nas voz do mar procura ORFEU: Ausência que povoa terra e céu E cobre de silêncio o mundo inteiro... antes de chegar a esta estética Sofia explicava a sua arte poética com a infancia... porque antes de antes de saber ler, ela ouvia recitar e deste modo aprendeu de cor um antigo poema tradicional português, chamado Nau Catrineta. Ou seja... como ela explica conheceu o poema antes de conhecer a literatura. Sofia diz que era tão nova que nem sabia que os poemas eram escritos por pessoas, mas julgava que eram consubstanciais ao universo, que eram a respiração das coisas, o nome deste mundo dito por ele próprio.

Sofia pensava também que, se conseguisse ficar completamente imóvel e muda em certos lugares mágicos do jardim, conseguiria ouvir um desses poemas que o próprio ar continha em si. No fundo, toda a minha vida tentei escrever esse poema imanente, explica a escritora... Para quemn aqueles momentos de silêncio no fundo do jardim ensinam que não há poesia sem silêncio...